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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Soneto 7

Quantas vezes Lidora me dizia,
Ao terno peito minha mão levando:
 Conjurem-se em meu mal os astros, quando
Achares em meu peito aleivosia!

Então que não chorasse lhe pedia,
Por firme seu amor acreditando.
Ah! que em movendo os olhos, suspirando,
Ao mais acautelado enganaria.

Um ano assim viveu. Oh! céus, agora
Mostrou que era mulher: a natureza,
Só por não se mudar, a fez traidora.

Não, não darei mais cultos à beleza,
Que depois de faltar à fé Lidora,
Nem creio que nas deusas há firmeza.


Eu devo admitir que tive muita dificuldade para interpretar o soneto que escolhi. Na verdade, ignorando o contexto de todo o livro, o soneto faz sentido e por isso ele foi minha escolha. Porém, para interpretá-lo da maneira correta, eu devia considerar o contexto de toda a história presente nas liras e nos outros sonetos. Ainda assim, durante muito tempo, não consegui entender muito bem o que esse soneto dizia. Pesquisei inúmeras vezes algo que pudesse me dar uma pista sobre isso. Encontrei um site dizendo: “A terceira parte do livro [...] é considerada por muitos apócrifa, não só por não ter data correta de edição, mas também por haver outra parte escrita em sonetos, que não era o estilo de Gonzaga. [...] Nesta parte, também se percebe um distanciamento entre Dirceu e Marília. Talvez por ter encontrado um amor em Moçambique, ou pela edição ser realmente apócrifa.” Tendo isso em mente, comecei a notar que, tanto neste, quanto em outros sonetos, a distância entre Dirceu e Marília é mais do que concreta: é como se Marília nunca tivesse existido. Ao fazer o glossário, não consegui encontrar de maneira alguma o significado de “Lidora”. De certa forma, a partir daí, entendi o que se passa aqui. Lidora aparece em outros sonetos com a mesma imagem que é retratada aqui: uma traidora. A conclusão a qual cheguei diz que antes de Marília, Dirceu conheceu outros amores. Amores impuros, cruéis, que o maltrataram, como este de Lidora. Ela o traiu de maneira vil, depois de um ano de relacionamento, magoando-o profundamente. Dirceu, por sua vez, ficou completamente abatido, deixando de depositar fé em seus deuses – ou deusas, como dito no soneto – e no próprio amor.

Anteriormente, considerei todo o contexto histórico para interpretar o soneto. Feito isso, notei que, nos sonetos, há uma falta de “encaixe” com o restante do livro. Nos 13 sonetos que são lidos, há nomes de mulheres, sendo amadas ou odiadas, como é o caso aqui presente. Para mim, essa parte foi a mais difícil de compreender, já que, em minha opinião, parece acontecer num tempo anterior à Maria Doroteia. Gonzaga não era um poeta de sonetos, mas pouco posso concluir sem conhecimento de suas outras obras. Acredito que os sonetos precederam as liras pessoal e poeticamente. Portanto, a conclusão que tiro do contexto dessa parte do livro é que Gonzaga escreveu os sonetos sem pensar em Maria Doroteia, pois ainda não a havia encontrado. Não acredito na teoria do amor encontrado em Moçambique, ainda que ele tenha se casado. Ainda acredito que seu maior e verdadeiro amor foi Maria Doroteia.

As características do arcadismo aqui não são tão presentes. Há, claramente, uma referência às raízes greco-latinas ao falar de “deusas”, e, além disso, encontrei uma pequena referência à natureza, ainda assim, nem como um bucolismo.

Glossário:

Conjurem-se - Convocar para uma conjuração; intentar por meio de conspiração.
Aleivosia - Traição cometida por aquele em quem se tem fé.
Acautelado - Ter cautela.


Maria Carolina D'avilla - nº 28
1º E

3 comentários:

  1. Carol, você seguiu uma ótima linha de raciocínio na interpretação do seu soneto. Consegui compreender perfeitamente tudo que foi posto, mas notei uma visão muito particular na sua interpretação. Principalmente sobre terem sido escritos antes de Maria Doroteia ou sobre novos amores em Moçambique.

    Yan Mateus N° 40 - 1° E

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  2. Sim, Yan. Eu senti necessidade de adicionar um ponto de vista mais pessoal. Acho que não havia outra forma de interpretar esse soneto.

    Maria Carolina D'avilla - nº 28
    1º E

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  3. Carol, gostei muito de sua análise , você conseguiu mostrar cada detalhe se sua opinião.Também acredito que o poeta tenha escrito o soneto antes de conhecer Maria Doroteia.


    Daniella Úrsula de Macêdo Marques

    Nº 06 1ºE

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