Num fértil campo de soberbo Douro,
Dormindo sobre a relva, descansava,
Quando vi que a Fortuna me mostrava
Com alegre semblante o seu tesouro.
De uma parte, um montão de prata e ouro
Com pedras de valor o chão curvava;
Aqui um cetro, ali um trono estava,
Pendiam coroas mil de grama e ouro.
– Acabou – diz-me, então – a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
Pois benigna os concedo, vai, procura.
Escolhi, acordei, e não vi nada:
Comigo assentei logo que a ventura
Nunca chega a passar de ser sonhada.
Neste soneto, há uma evidenciação de bens. Dirceu é visitado
– novamente – pela Fortuna, que, na segunda parte do livro, o visitou na prisão
da Ilha das Cobras. Porém, dessa vez, a Fortuna aparece para mostra-lo os bens
que possui e que pode dar a ele. A cena é grandiosamente descrita, mostrando
metais e pedras preciosas, além de símbolos de poder, como uma coroa, um cetro
e um trono. Porém, assim como a Fortuna, a Desventura também é materializada,
sendo uma figura pessimista, que diz que tudo aquilo não é real. Repentinamente,
Gonzaga abre os olhos e percebe que na verdade, todas as riquezas que vira, todas
as posses, toda a beleza de bens e da natureza não passava de um sonho. No fim
do soneto, há uma demonstração de tristeza e pessimismo vindos do próprio
Dirceu: “Comigo assentei logo que a ventura / Nunca chega a passar de ser
sonhada.”.
Apesar de fazer parte da terceira parte do livro, o contexto
histórico dos sonetos é bem diferente do restante do livro. Para compreender do
que se trata é preciso mais do que a leitura completa do livro: é preciso
conhecer a biografia do autor da obra. Depois de exilado, Tomás Antônio Gonzaga
conheceu uma mulher, com quem se casou e teve dois filhos. Não creio que ele
tenha sido realmente feliz tamanho era seu amor por Marília no decorrer do
livro. Se esse soneto foi escrito em seu exílio, como eu acredito que foi,
mostra esse lado triste que ainda tinha em seu coração. A Fortuna mostra
riquezas materiais equivalentes a uma família que Gonzaga conseguira construir,
mas, de qualquer maneira, ele ainda não se sentia feliz com aquilo. Interpretei
cada soneto de uma maneira particular. Alguns me pareciam ter sido escritos antes
de o autor conhecer Maria Doroteia, enquanto outros pareciam de passar depois
deste período.
Nesse soneto há algumas características do arcadismo bem
evidentes. Há o desprezo pelas riquezas materiais, mesmo que quase
indetectável. Também há o aparecimento de figuras mitológicas – mesmo que não
grega – , a objetividade e a inutilia truncat
(cortar o inútil).
Glossário:
Soberbo – Que tem soberba, orgulhoso.
Relva – Terreno coberto de erva = GRAMA.
Semblante – Rosto, fisionomia.
Montão – Porção de coisas sobrepostas.
Cetro – Bastão curto utilizado pelas autoridades, pelos
soberbos.
Benigna – Afável, favorável, suave e bom.
Assentei – Determinar, resolver.
Daniella Úrsula de Macêdo Marques
Nº 06, 1º E
Dani, achei sua visão sobre este soneto muito interessante. Não só desse, mas de todos de um modo geral. Particularmente, no início, achava que os sonetos falavam sobre um período antes de Maria Doroteia, mas você me mostrou que nem sempre é assim. Ficou muito bom!
ResponderExcluirMaria Carolina D'avilla - nº 28
1º E
Bom dia!
ResponderExcluirCada membro faz uma dissertação utilizando um tema da Lira 11 da 1ª parte do livro, com pelo menos 30 linhas e publica até 16/09/2013. Tenha uma boa semana.
Professor Ivan