Lira XXXII Parte II
Se o vasto mar se encapela,
E na rocha em flor rebenta,
Grossa nau, que não tem leme,
Em vão sustentar-se intenta;
Até que naufraga, e corre
À discrição da tormenta.
Quem não tem uma beleza,
Em que ponha o seu cuidado;
Se o Céu se cobre de nuvens,
E se assopra o vento irado,
Não tem forças que resistam
Ao impulso do seu fado.
Nesta sombria masmorra,
Aonde, Marília, vivo,
Encosto na mão o rosto,
Ah! que imagens tão funestas
Me finge o pesar ativo.
Parece que vejo a honra,
Marília, toda enlutada;
A face de um pai rugosa,
Num mar de pranto banhada;
Os amigos macilentos,
E a família consternada.
Quero voltar aos meus olhos
Para outro diverso lado;
Vejo numa grande praça
Um teatro levantado;
Vejo as cruzes, vejo os potros,
Vejo o alfanje afiado.
Um frio suor me cobre,
Laxam-se os membros, suspiro;
Busco alívio às minhas ânsias,
Não o descubro, deliro.
Já , meu Bem, já me parece
Que nas mãos da morte expiro.
Vem-me então ao pensamento
A tua testa nevada,
Os teus meigos, vivos olhos,
A tua face rosada,
Os teus dentes cristalinos,
A tua boca engraçada.
Qual, Marília, a estrela d'alva,
Que a negra noite afugenta;
Qual o Sol, que a névoa espalha
Apenas a terra aquenta;
Ou qual Íris, que o Céu limpa,
Quando se vê na tormenta:
Assim, Marília, desterro
Triste ilusão, e demência;
Faz de novo o seu ofício
A razão, e a prudência;
E firmo esperanças doces
Sobre a cândida inocência.
Restauro as forças perdidas,
Sobe a viva cor ao rosto,
Gira o sangue pela veia,
E bate o pulso composto:
Vê, Marília, o quanto pode
Contra meus males teu rosto
E na rocha em flor rebenta,
Grossa nau, que não tem leme,
Em vão sustentar-se intenta;
Até que naufraga, e corre
À discrição da tormenta.
Quem não tem uma beleza,
Em que ponha o seu cuidado;
Se o Céu se cobre de nuvens,
E se assopra o vento irado,
Não tem forças que resistam
Ao impulso do seu fado.
Nesta sombria masmorra,
Aonde, Marília, vivo,
Encosto na mão o rosto,
Ah! que imagens tão funestas
Me finge o pesar ativo.
Parece que vejo a honra,
Marília, toda enlutada;
A face de um pai rugosa,
Num mar de pranto banhada;
Os amigos macilentos,
E a família consternada.
Quero voltar aos meus olhos
Para outro diverso lado;
Vejo numa grande praça
Um teatro levantado;
Vejo as cruzes, vejo os potros,
Vejo o alfanje afiado.
Um frio suor me cobre,
Laxam-se os membros, suspiro;
Busco alívio às minhas ânsias,
Não o descubro, deliro.
Já , meu Bem, já me parece
Que nas mãos da morte expiro.
Vem-me então ao pensamento
A tua testa nevada,
Os teus meigos, vivos olhos,
A tua face rosada,
Os teus dentes cristalinos,
A tua boca engraçada.
Qual, Marília, a estrela d'alva,
Que a negra noite afugenta;
Qual o Sol, que a névoa espalha
Apenas a terra aquenta;
Ou qual Íris, que o Céu limpa,
Quando se vê na tormenta:
Assim, Marília, desterro
Triste ilusão, e demência;
Faz de novo o seu ofício
A razão, e a prudência;
E firmo esperanças doces
Sobre a cândida inocência.
Restauro as forças perdidas,
Sobe a viva cor ao rosto,
Gira o sangue pela veia,
E bate o pulso composto:
Vê, Marília, o quanto pode
Contra meus males teu rosto
A lira mostra todo o sofrimento ,dor e amargura de Dirceu por estar preso e longe de sua amada , a dura saudade que sente dela . Também demonstra a tristeza de seus amigos e familiares por estar nessa dolorosa situação . No entanto ,as lembranças que Dirceu tem de Marília o fazem ,recobrar suas forças e resistir a aquela terrível dor .
características do arcadismo : Como a maioria das liras da segunda parte o autor deixa o bucolismo de lado , e utiliza do racionalismo ou seja: deixa de lado as paixões criativas , e recorre á emoções genéricas que ao contrário das liras não genéricas deixa de utilizar emoções, que são puro fruto da imaginação , e inspiração do autor.
Também utiliza do uso do Inutilia truncat , evitando os excessos e indo direto ao assunto , com uma linguagem mais simples. Nessa lira não detectei a exaltação a figuras mitológicas que , são bastante comuns na primeira parte da obra .
Como todas as liras da segunda parte Dirceu está preso e longe de sua amada , fazendo com que a leveza das liras da primeira parte desapareça, caracterizando no meu ponto de vista um clima gótico ,de escuridão e dor sofridos pelo autor .
Glossário : Vasto : Que tem grande extensão; muito amplo.
Encapela: Levantar, encrespar.
Rebenta: arrebenta; arrebentas; arrebente; estoira; estoiras; estoire; estoura; estouras; estoure; explode; explodes.
Nau: Antiga embarcação a vela, de alto bordo, com três mastros e numerosas bocas de fogo.
Intenta: pretenda; pretende; pretendes.
Fado: Fadário, destino, sorte.
Funesto:
Que provoca a morte, a desgraça: acidente funesto.Nocivo, fatal.
Entulada: Que está de luto.
Macilento: Pálido, descorado; magro, descarnado: a doença deixou-lhe um aspecto macilento.
Consternado: Que sofreu consternação; que se encontra triste ou desolado.
Desterro: Ato ou efeito de desterrar; expulsão da pátria; exílio, banimento; deportação.
Natália C. Frazão - nº 30
1º E
Natália, gostei da sua análise, mas não concordo em algumas partes.
ResponderExcluirPor exemplo, essa lira é realmente muito carregada, mas não concordo que o termo "gótico" possa ser usado aqui. Conheço duas definições para esse termo. A primeira refere-se à arte associada aos godos. A segunda refere-se ao estilo visual e de vida que temos conhecimento hoje em dia. Esse poema é melancólico, triste, mas isso não é exatamente o que pode ser chamado de gótico.
Também acho que a lira não resume-se apenas a dor e "nossa, como Marília o faz bem". Acho que trata-se de esperança. Sim, por causa de Marília, mas também por causa dele mesmo. Da vida dele.
E, antes que me espeça, eu creio (não tenho certeza) que nessa lira ele está exilado.
Maria Carolina D'avilla - nº 28
1º E
Maria quando me referi ao termo "gótico " , me referi a literatura gótica que aborda temas tristes ,místicos e temas do submundo que não seria esse o caso . E como você mesma disse é um poema triste,melancólico o que condiz com poemas da literatura gótica . Na minha opinião o termo gótico vai muito mais , além da simples associação genérica entre vestimentas , e a arte que engloba os godos . E sim Tómas estava exilado quando escreveu essa lira , eu sei por que pesquisei em várias fontes diferentes , não em uma mas em várias.
ResponderExcluirA parte em que ele se refere a uma sombria masmorra explícita isso claramente.
Observação: Não estou desmerecendo sua opinião . Tentei esclarecer o quis passar na minha análise .
Natália C. Frazão
nº 30
1º E
Natália, eu entendi o que você quis dizer com isso, mas ainda penso que o termo "gótico", mesmo que referente à literatura gótica, para encaixar-se no contexto do poema, deveria, não ser associado à toda a literatura de maneira geral, mas a alguns autores. Por exemplo, H. P. Lovecraft, Bram Stoker e Mary Shelley foram autores de literatura gótica, mas seus livros, poemas e contos não têm essa carga triste, depressiva.
ResponderExcluirBom, é apenas minha opinião. Se você se lembrar de algum autor que se encaixe no contexto dessa lira, por favor, me diga.
Maria Carolina D'avilla - nº 28
1º E
Natália, você poderia me explicar mais claramente o que você quis dizer nessa parte de sua análise: “e utiliza do racionalismo ou seja: deixa de lado as paixões criativas , e recorre á emoções genéricas que ao contrário das liras não genéricas deixa de utilizar emoções, que são puro fruto da imaginação , e inspiração do autor.”
ResponderExcluirNão consegui entender o que você quis passar usando as expressões “paixões criativas” e “emoções genéricas”.
Yan Mateus Da Silva Ribeiro, N° 40, 1° “E”
Gostei muito da lira e de sua interpretação, na segunda parte Dirceu fala muito sobre dor e sofrimento mas quando ele lembra de Marília parece que tudo isso desaparece, porém, ele se lembra que está longe de sua amada e toda a dor volta novamente.
ResponderExcluirLuciane A. - 25
1E
Gostei de sua análise, mas concordo com o Yan. Há algumas expressões que eu não compreendi, você poderia esclarecer?
ResponderExcluirDaniella Úrsula de Macêdo Marques
Nº 06 1ºE
Gostei de sua análise, mas acho que faltou alguma coisa, talvez um pouco mais de esclarecimento em sua palavras.
ResponderExcluirAmanda Silva Santana - Nº 03
1ºE