que viva de guardar alheio gado;
nem sou pastor grosseiro,
dos frios gelos e do sol queimado,
que veste as pardas lãs do seu cordeiro.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
A Cresso não igualo no tesouro;
mas deu-me a sorte com que honrado viva.
Não cinjo coroa d'ouro;
mas povos mando, e na testa altiva
verdeja a coroa do sagrado louro.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
Maldito seja aquele, que só trata
de contar, escondido, a vil riqueza,
que, cego, se arrebata
em buscar nos avós a vã nobreza,
com que aos mais homens, seus iguais, abata.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
As fortunas, que em torno de mim vejo,
por falsos bens, que enganam, não reputo;
mas antes mais desejo:
não para me voltar soberbo em bruto,
por ver-me grande, quando a mão te beijo.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
Pela ninfa, que jaz vertida em louro,
o grande deus Apolo não delira?
Jove, mudado em touro
e já mudado em velha não suspira?
seguir aos deuses nunca foi desdouro.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
Pertendam Anibais honrar a História,
e cinjam com a mão, de sangue cheia,
os louros da vitória;
eu revolvo os teus dons na minha idéia:
só dons que vêm do céu são minha glória.
Graças, ó Nise bela,
graças à minha estrela!
Moralmente, Dirceu apresenta-se como digno de consideração
social desde a primeira lira, pois, como vimos, possui “próprio casal”, é
independente economicamente. Uma observação não menos importante. É o que
ocorre com três liras de Marília de Dirceu, em que o tema é a superioridade do
pastor, mantida em qualquer ocasião, seja nos momentos livres e felizes ou nos
de agonia na masmorra. Vamos encontrar esta situação nas liras “Eu não sou,
minha Nise, pegureiro” (nesta lira). “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro”
(lira 1, parte I) e “Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro” (lira 15, parte II).
Como foi destacado na última análise. Encontram-se também, nesta poesia, alusão
a figuras mitológicas.
Essa terceira parte foi escrita no exílio, em Moçambique. É
importante frisar que todas as partes do livro foram publicadas quando o romance
entre Gonzaga e Dorotéia já havia se encerrado. Ainda não se tem provas
concretas da autenticidade dessa terceira parte.
Glossário:
Pegureiro; guardador de gado. Relativo a pastor.
Vil; que degrada o homem. Desprezível.
Reputo; Julgar, ter em conta, considerar.
Desdouro; Aquilo que é desonroso ou que mancha a reputação.
Cinjam/ Cinjo; Aquilo
que é desonroso ou que mancha a reputação. (figurado) Limitar, restringir.
Jove; equivalente ao deus Júpiter (mitologia romana).
Aníbais; [Aníbal] foi um general e estadista cartaginês
considerado por muitos como um dos maiores táticos militares da história.
Yan Mateus Da Silva Ribeiro - N° 40 1° E
Gostei da sua análise e principalmente da sua atenção ao notar a similaridade da ênfase que Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga) dá a si mesmo em várias liras do livro. Ficou muito bom!
ResponderExcluirMaria Carolina D'avilla - nº 28
1º E
Gostei da sua abordagem e concordo com a Carol em relação à semelhança do personagem no decorrer das liras. Notei a comparação entre Dirceu e um pastor que nos remete a pensar nas qualidades que Dirceu possui.
ResponderExcluirAMANDA SILVA SANTANA Nº03
1ºE
Gostei de sua análise, concordo com a Carol, também achei muito interessante a maneira em que você comparou essa lira com as demais da primeira e da segunda parte. Senti falta de algumas palavras no glossário que me dificultaram na interpretação.
ResponderExcluirDaniella Úrsula de Macêdo Marques
Nº06 1ºE