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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Parte 2 - Lira IV
Já, já me vai, Marília, branquejando
Louro cabelo, que circula a testa;
Este mesmo, que alveja, vai caindo
E pouco já me resta.
As faces vão perdendo as vivas cores,
E vão-se sobre os ossos enrugando,
Vai fugindo a viveza dos meus olhos;
Tudo se vai mudando.
Se quero levantar-me, as costas vergam;
As forças dos meus membros já se gastam,
Vou a dar ela casa uns curtos passos,
Pesam-me os pés, e arrastam.
Se algum dia me vires destas sorte,
Vê que assim me não pôs a mão dos anos:
Os trabalhos, Marília, os sentimentos,
Fazem os mesmos danos.
Mal te vir, me dará em poucos dias
A minha mocidade o doce gosto;
Verás burnir-se a pele, o corpo encher-se,
Voltar a cor ao rosto.
No calmoso Verão as plantas secam;
Na Primavera, que os mortais encanta,
Apenas cai do Céu o fresco orvalho,
Verdeja logo a planta.
A doença deforma a quem padece;
Mas logo que a doença faz seu termo,
Torna, Marília, a ser quem era dantes,
O definhado enfermo.
Supõe-me qual doente, ou mal a planta,
No meio da desgraça, que me altera;
Eu também te suponho qual saúde,
Ou qual a Primavera. Se dão esses teus meigos, vivos olhos
Aos mesmos Astros luz, e vida às flores,
Que efeitos não farão, em quem por eles
Sempre morreu de amores?
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O poeta expressa nas palavras os efeitos de sua velhice, não só fisicamente como também emocionalmente. Durante a lira ele diz que tenta se levantar e se locomover, mas sua coluna torta e seus pés pesados o fazem arrastar-se para sair do lugar. Mas ao lembrar ou ver Marília ele se sente jovem novamente, capaz de qualquer coisa. Com Marília tudo fica com mais vida e cor.

A situação histórica dessa lira não é diferente das demais dessa segunda parte. Gonzaga se encontra preso na Ilha das Cobras em Moçambique, em um momento de fragilidade onde admiti que está ficando velho, e principalmente que sente muito a falta de sua amada Doroteia.

Podemos observar que na segunda parte o bucolismo vai desaparecendo. E nessa lira Tomás usa bastante o carpe diem, a passagem do tempo como algo que traz a velhice, a fragilidade e a morte.

Glossário:
Branquejando – Mostrar-se branco; apresentar a cor branca.
Alveja – Acertar no alvo; Tornar branco.
Burnir – tornar brilhante; polir; lustrar.
Padece – Ser vítima de violências físicas; sentir dores físicas ou morais; estar doente.

Definhado – tornar-se sem vida, sem cor, sem ânimo; perder o vigor, a saúde.

Amanda Silva Santana - Nº 03
1ºE

3 comentários:

  1. Lira fantástica, Amanda ficou muito boa sua interpretação, "com Marília tudo fica com mais vida e cor." bem observado.

    Luciane A. - 25
    1E

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  2. Concordo com a sua análise, realmente o poeta está admitindo que está ficando velho. A sua interpretação está bastante clara.


    Daniella Úrsula de Macêdo Marques

    Nº06 1ºE

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  3. Um ponto que considerei positivo na sua lira foi que, com poucas palavras, você explicou muito bem o que se passava. Não é como outras interpretações (como as minhas). É breve e bem explicada. Gostei muito e concordo com você.

    Maria Carolina D'avilla - nº 28
    1º E

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