Parte 2 - Lira
IV
Já, já me vai,
Marília, branquejando
Louro cabelo,
que circula a testa;
Este mesmo, que
alveja, vai caindo
E pouco já me
resta.
As faces vão
perdendo as vivas cores,
E vão-se sobre
os ossos enrugando,
Vai fugindo a
viveza dos meus olhos;
Tudo se vai
mudando.
Se quero
levantar-me, as costas vergam;
As forças dos
meus membros já se gastam,
Vou a dar ela
casa uns curtos passos,
Pesam-me os
pés, e arrastam.
Se algum dia me
vires destas sorte,
Vê que assim me
não pôs a mão dos anos:
Os trabalhos,
Marília, os sentimentos,
Fazem os mesmos
danos.
Mal te vir, me
dará em poucos dias
A minha
mocidade o doce gosto;
Verás burnir-se
a pele, o corpo encher-se,
Voltar a cor ao
rosto.
No calmoso
Verão as plantas secam;
Na Primavera,
que os mortais encanta,
Apenas cai do
Céu o fresco orvalho,
Verdeja logo a
planta.
A doença
deforma a quem padece;
Mas logo que a
doença faz seu termo,
Torna, Marília,
a ser quem era dantes,
O definhado
enfermo.
Supõe-me qual
doente, ou mal a planta,
No meio da
desgraça, que me altera;
Eu também te
suponho qual saúde,
Ou qual a
Primavera. Se dão esses teus meigos, vivos olhos
Aos mesmos
Astros luz, e vida às flores,
Que efeitos não
farão, em quem por eles
Sempre morreu
de amores?
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O poeta
expressa nas palavras os efeitos de sua velhice, não só fisicamente como também
emocionalmente. Durante a lira ele diz que tenta se levantar e se locomover,
mas sua coluna torta e seus pés pesados o fazem arrastar-se para sair do lugar.
Mas ao lembrar ou ver Marília ele se sente jovem novamente, capaz de qualquer
coisa. Com Marília tudo fica com mais vida e cor.
A situação histórica dessa lira não é diferente das demais dessa
segunda parte. Gonzaga se encontra preso na Ilha das Cobras em Moçambique, em
um momento de fragilidade onde admiti que está ficando velho, e principalmente
que sente muito a falta de sua amada Doroteia.
Podemos observar que na segunda parte o bucolismo vai
desaparecendo. E nessa lira Tomás usa bastante o carpe diem, a passagem do tempo como algo
que traz a velhice, a fragilidade e a morte.
Glossário:
Branquejando – Mostrar-se
branco; apresentar a cor branca.
Alveja – Acertar no
alvo; Tornar branco.
Burnir – tornar
brilhante; polir; lustrar.
Padece – Ser vítima de
violências físicas; sentir dores físicas ou morais; estar doente.
Definhado – tornar-se
sem vida, sem cor, sem ânimo; perder o vigor, a saúde.
Lira fantástica, Amanda ficou muito boa sua interpretação, "com Marília tudo fica com mais vida e cor." bem observado.
ResponderExcluirLuciane A. - 25
1E
Concordo com a sua análise, realmente o poeta está admitindo que está ficando velho. A sua interpretação está bastante clara.
ResponderExcluirDaniella Úrsula de Macêdo Marques
Nº06 1ºE
Um ponto que considerei positivo na sua lira foi que, com poucas palavras, você explicou muito bem o que se passava. Não é como outras interpretações (como as minhas). É breve e bem explicada. Gostei muito e concordo com você.
ResponderExcluirMaria Carolina D'avilla - nº 28
1º E